Paulo Vivacqua

  • Biografia

    Que arte é essa? Numa época em que tudo está gritando, há o desejo de uma arte quieta na razão inversa do barulho. Que arte é essa que, ao sussurrar, constitui a profundidade do sentido na superfície impalpável do ar? Que arte é essa que nos convida à profundidade da superfície, como se fosse uma pintura de camadas de ar a nos envolver, não pelo tato, mas pelo ato e pelo fato de um som que funda um tempo que se estica preguiçosamente no espaço e que trai a vertigem avassaladora da fragmentação contemporânea? Que arte é essa que quer retornar a alguma forma de constância, e quer ser no tempo parada para que o tempo seja maior que o espaço e nos convide a conviver com uma freqüência mais baixa em que a alma se acalma, o pensamento flui e a leveza possa existir? Que arte é essa que quer criar estabilidade num mundo fragmentado e que, em se fazendo no tempo, quer nos dar acesso para um lugar fora do tempo? Fora desse tempo que se tornou uma medida asfixiante porque quer definições (e elas não são possíveis); porque quer certezas imperais, quando elas não mais existem; porque quer o sentido, onde só há patinação na superfície.

    Que arte é essa que nos convida a conviver com a flutuação? Flutuar é conviver na leveza; é buscar a superfície da profundidade. A areia no fundo do oceano, o oceano no fundo da areia, a lua no meio do céu, e o céu no meio de outros céus. Flutuar é ser no som. É pensar por saltos. É ver por justaposição. É a sintaxe do vento. São as folhas se mexendo não por uma causalidade mecânica, mas por uma força impalpável que as envolve e as conduz. A sintaxe do vento é a sintaxe do som atonal, do olhar magrittiniano, do verbo de Becket; de uma narrativa flutuante. Uma narrativa que se constitui no processo não aleatoriamente, mas por uma sincronia que se impõe pela força de um mesmo imaginário. Que arte é essa que quer potencializar um outro imaginário? Um imaginário que possa fluir na leveza da flutuação e cerzir sentido em um tecido esgarçado pelo excesso de demanda de desejos, pela constrição da velocidade, pela dispersão da fragmentação, pelo patético da estupidez.

    Que arte é essa que, ao ser confortável aos sentidos, é generosa consigo mesma não gerando expectativas, mas solicitando atenção, delicadeza e disponibilidade? Que arte é essa que quer a calma e a experiência da radicalidade do real, sem os subterfúgios da fantasia da realidade ou, ainda, deseja a fantasia como uma realidade possível? Que arte é essa que tem uma intencionalidade romântica de chegar à coisa em si, mas que dela se desvia, não pelo medo ou pela insegurança, mas pela certeza da abrangência que sabe estar contida naquilo que quer flutuar e nunca se fechar? Que arte é essa que deseja planos mais lentos e consistentes,que nos convida a mergulhar no lago, ver o reflexo das águas, ouvir o som dos ventos e dos pastores, o canto dos anjos e a voz das sentinelas, a presença pelo som, o sentir pela imagem? Que arte é essa que quer ser visível, sendo som; que quer ser som, sendo visível? Que arte é essa que quer esculpir o tempo?

    Que arte é essa que quer nos dar o tempo como preciosidade? Paz (o ronco dos vulcões). Paz (o abandono das enchentes). Paz (a fera revoltada). Paz (a solidão da velhice). Paz (a cegueira no precipício). Paz (o grito no sonho). Paz (o som do surdo). Paz (a ferida interna que não se fecha). Paz (a sabedoria do paradoxo). O som do silêncio. O mundo que se expande dentro de cada um de nós. O mundo sem medida ou tamanho, que nos torna cúmplices do nascimento e da morte. Porosos. O som que acalma e a cantiga de ninar. Mãe. O mundo é som (Peter Sloterdijk). Tudo vive no som. Tudo tem tremor de som. O som é o uivo do eterno, principalmente quando há silêncio; quando as palavras se recolhem e o som se amplia e nos reconhecemos no som primordial (Big bang), que fez eclodir a visão e nos gerou no tempo que nos abriga. Que arte é essa que alguns de nós queremos construir e que dê conta das dúvidas, estranhezas, incertezas, imponderáveis, imprevisíveis e tudo o mais que nos aflige, que nos põe frente a frente com o mistério, do qual não queremos escapar, mas o desejamos por ser a saída para um encontro com certezas que nos deixam mais próximos de nós.

    Que arte é essa que à la Matisse quer o conforto da paz porque quer confeccionar o sentido no seu limite porque, como Becket, não se trata de localizar o desejo de um sujeito, mas de formatar os outros entre os outros, localizando um lugar? Um lugar onde nos sentimos confortáveis com o desconforto de nosso tempo porque é um lugar abrangente em que não nos escondemos nas mentiras, mas delas nos protegemos ao aceitá-las como verdades. Que lugar é esse que essa arte almeja – o lugar onde talvez alguns de nós gostaríamos de estar –, que indica com seu som que é possível estender o tempo, que é possível ser no tempo, que é possível esquecimento. Que lugar é esse que anunciado pelo fim da história (pelo fim dos tempos) é aguardado como uma reconciliação com o uno e que hoje experimentamos como o incontrolável deslocamento do múltiplo? Que lugar é esse inventado pela arte, que hoje ela recusa ocupar, mas que almeja recuperar como o lugar onde a vida sempre esteve? Que lugar é esse?

    Marcio Doctors

  • Bibliografia

    Não disponível

  • CV

    Com formação em música, Paulo Vivacqua elabora sua obra a partir de um cruzamento de linguagens sonora, visual e textual. Suas esculturas, objetos e ambientes sonoros ativam narrativas do espaço, paisagens temporárias. O trabalho acontece através de uma parafernália de dispositivos e materiais industriais, como placas de vidro, metal, alto falantes, minério de ferro, granito, espelhos, entre outros.

    Bolsas/Residências/Prêmios
    2008 Arte e Patrimônio Prize, Palacio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro, Brasil
    2006 Open Studio Project, Cairo, Egypt
    2006 Projéteis Funarte Prize, Rio de Janeiro, Brasil
    2001 Ministerial of Culture scholarship Bolsa Virtuose at Apexart, New York, USA

    Coleções
    Thyssen-Bornemisza Art Contemporary, Wien, Austria
    Colección Patricia Phelps de Cisneros, NY, USA
    Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM-Rio, Brasil
    Coleção Fundação Vera Chaves Barcelos, Porto Alegre, Brasil

  • Exposições

    Exposições Individuais
    2015 Relatos e Visagens, Van Zijll Langhout, Amsterdam, Holanda
    2013 Interpretação, Fundação Cidade das Artes, Rio de Janeiro, Brasil
    2012 Ohm, Galeria Moura Marsiaj, São Paulo, Brasil
    2011 Interestelar Cluster, SP Arte, Ed. Ibirapuera, São Paulo, Brasil
    2011 kms5n6j6jw6EHkuhuf7ytgEQg4jk46a45h, Galeria Laura Marsiaj, Rio de Janeiro, Brasil
    2010 Ectoplasma, Galeria Moro, Santiago, Chile
    2009 V(ar)iações, Galeria Artur Fidalgo, Rio de Janeiro, Brasil
    2008 Palavras Cruzadas, Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil
    2008 Galeria Murilo Castro, Belo Horizonte, Brasil
    2008 Sentinelas, Prêmio Arte e Patrimônio, Palácio Capanema, Rio de Janeiro, Brasil
    2007 Galeria Matias Brotas, Vitória, Brasil
    2006 Visita, Projeto Respiração – Fundação Eva Klabin, Rio de Janeiro, Brasil
    2006 Nympheas, Galeria Artur Fidalgo, Rio de Janeiro, Brasil
    2005 O Feitiço, Galeria de Arte do IBEU, Rio de Janeiro, Brasil
    2005 The Legend of The Lake, Art in General, Nova York, USA
    2003 Instalasônica, Capacete, Rio de Janeiro, Brasil
    2002 Escape, El Museo del Barrio, Nova York, USA
    2000 Mobile, Ateliê Finep, Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil

    Exposições Coletivas

    2015 Espaço Art Contemporânea, Arte Clube Jacarandá, Rio de Janeiro, Brasil
    2014 Intervenções Bradesco ArtRio, Praça Paris, Rio de Janeiro, Brasil
    2014 Singularidades/ Anotações – Rumos Artes Visuais 1998 – 2013, Itaú Cultural, São Paulo, Brasil
    2014 Ouvir com os Olhos, Marcos Chaves e Paulo Vivacqua, Residência Los Nuevos Sensibles, Valparaiso, Chile
    2013 Land der Zukunft, Berlin, Germany
    2012 XXX Bienal de São Paulo, Brasil
    2012 Pastores, I Bienal de Montevideo, Montevideo, Uruguay
    2011 Sublevação, Multiplicidade – Casa França Brasil, Rio de Janeiro, Brasil
    2011 Projeto Cavalo, Oi Futuro, Rio de Janeiro, Brasil
    2010 Mosaico, Mapas Invisíveis – Caixa Cultural, Rio de Janeiro, Brasil
    2010 Porto de Aproximação, Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, Brasil
    2010 Novas Aquisições Gilberto Chateaubriand – MAM, Rio de Janeiro, Brasil
    2009 63º Salão Paranaense, MAC–Paraná, Curitiba, Brasil
    2009 2a. Bienal Anual de Búzios, Projetoconcreto, Buzios,Brasil
    2008 The Warsaw Experience 01, Galeria Lokal_30, Varsóvia, Polônia
    2008 Anêmona, N-Múltiplos, Galeria Murilo Castro, Belo Horizonte, Brasil
    2008 Nova Arte Nova, Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Rio de Janeiro, Brasil
    2008 Alga, Arquivo Geral, Centro Cultural da Justiça Eleitoral, Rio de Janeiro, Brasil
    2008 Anjo, Poética da Percepção, MAM, Rio de Janeiro
    2008 lug(AR), Museu Vale do Rio Doce, Vitória, Brasil
    2008 Deserto, Arte e Música, Conjunto Cultural da Caixa (CCC), Brasília, Brasil
    2007 Real Imaginário, Museu como Lugar, Museu Imperial, Petrópolis, Brasil
    2007 Deserto, Futuro do Presente, Itaúcultural, São Paulo, Brasil
    2007 Deserto, Equatorial Rhythms, Stenersen Museum, Oslo, Noruega
    2006 Nympheas, Geração da Virada, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo
    2006 Deserto, Câmaras de Luz, Oi Futuro, Rio de Janeiro
    2006 No Fear, Contra Golpe, Instituto Divorciados, Berlin, Germany
    2006 Stereo Desert, Open Studio Project, The Townhouse Gallery, Cairo, Egypt
    2006 Sala de Estar, Prêmio Projéteis Funarte, Funarte, Rio de Janeiro, Brasil
    2005 Residuu, 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil
    2005 International Biennale of Contemporary Art 2005, National Gallery, Praga, Czech Republic
    2005 A Lenda do Lago 2.1, Arte Brasileira Hoje, MAM, Rio de Janeiro, Brasil
    2004 Sentinels, “Treble”, Sculpture Center, Nova York, USA
    2003 Iron Works, The Brewster Project, Brewster, NY, USA
    2003 Escape, Zagreb Bank, 22º Music Biennale Zagreb, Croatia
    2003 Radio Polyphony, The Thing / Diapason Gallery, Nova York
    2002 Sound Field, “Sound in the Landscape”, The Fields Sculpture Park, Ghent, NY, USA
    2000 Paisagens Subterrâneas, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal

  • Site do Artista

    www.paulovivacqua.com

  • Seleção de Imprensa

    Não disponível