A instalação mundos é composta por três pinturas e uma intervenção no espaço expositivo e pretende criar um
ambiente imersivo e reflexivo.
Ao caminhar diante da obra, as pinturas localizadas no jogo de vidros cria uma noção de movimento da pintura e chama
a atenção dos visitantes para a possibilidade de que estruturas que a princípio entendemos como estáticas possam se
mover junto com nosso corpo.
A pesquisa da artista Juliana Gontijo tem seu cerne na investigação do espaço através da pintura. Em sua obra
encontramos questionamentos sobre territorialidades, cultura e sobre os modos de vida da nossa sociedade.
Uma das obras que compõe a instalação “Mundos” é “Ponto de transição”:

Juliana Gontijo, Ponto de transição, Carvão, lápis de cor, óleo e acrílica sobre tela, 140 x 220 cm, 2021
O texto que acompanha a obra nos dá um exemplo das reflexões apontadas acima:
“Ao se aproximarem e se tocarem, um trovão irrompe do interior da terra.
O temor, o tremor e o fogo vêm à superfície.
É impossível dizer o momento exato em que se forma uma grande cordilheira, o choque provocado pelo contínuo
trovejar causa medo, mas é preciso examinar cada movimento diante dessa manifestação, para que o núcleo não
abrigue qualquer secreta oposição entre o movimento e o desejo.
Assim duas placas convergem, esse é o ponto de transição”.
No texto acima vemos a tentativa da artista de refazer e experimentar o momento geológico em que as placas
tectônicas se encontram para formar a cordilheira dos Andes, ao mesmo tempo em que faz alusão a sentimentos
humanos frente a uma situação-limite capaz de mudar o destino da vida.
Na instalação a obra é acompanhada por um díptico intitulado “Confluência”:

Juliana Gontijo, Confluência, Acrílica e pastel oleoso sobre tela, 95 x 65 cm (cada), 2021
“Muitos se questionam sobre a possibilidade de criar um outro mundo, parece que a nossa sociedade se percebeu
inadequada para este mundo.
Alguns procuram novos mundos no espaço, outros dentro de si.
O que eu sei é que um outro mundo possível já existe, e que existem muitos.
Perguntei a um antigo sobre o sentido de estar em comunidade, ele me respondeu que na natureza sempre existe a
confluência. Que quando os rios se encontram eles passam a andar juntos e não deixam de ser rios.
O encontro de rios é também um ponto de transição.
Ele disse que nem tudo que junta se mistura, e que nem tudo que mistura se junta, por fim, falou que nas aldeias e
quilombos sempre se contam histórias de vitória, onde o sapo sempre ganha da onça”.
A obra traz uma reflexão sobre a nossa busca ocidental, a de quem vive em uma sociedade que tem como base a
exploração dos recursos naturais e a produção de riqueza, por um outro mundo possível, tendo em vista que seus
modos de vida não se mostram sustentáveis para esse planeta. Nesse contexto, ele aponta para a possibilidade de
olharmos para o mundo de maneira contra-hegemônica, a fim de compreender que dentro desse mundo já existes
modos de vida sustentáveis e que nos trazem contribuições éticas, técnicas e ecológicas para que a vida seja possível.
Fazendo referência ao poeta Nego Bispo o texto nos convoca a imaginar a sociedade/comunidade como uma
confluência entre rios para pensarmos que existe uma possibilidade de encontrarmos espaço neste mundo sendo
diferentes, e que isso só é possível se todos tiverem um interesse em comum, o cultivo da vida, da diversidade e das
possibilidades de encontro e diálogo.
Tanto “ponto de transição” quanto “confluência” são obras que se firmam na ideia de um movimento de encontro, a
primeira um encontro de placas tectônicas, a segunda o encontro entre dois rios. A instalação “mundos” aglutina essas
duas possibilidades de encontro com a ideia de recriar tempos, repetir movimentos, retomar impulsos, pensando na
ideia de que existem gestos primordiais da humanidade, alguns que seguimos repetindo todos os dias e outros que
deixamos de lado. No momento em que se deseja vislumbrar outros mundos é necessário retomar os gestos de início
para que possamos imprimir movimento e ação à vontade e ao desejo.

Instalação Mundos – Mini Galeria Casa Cor 2021 – Foto: Barbara Dutra