ArPa – Corpo-território – 31/05 a 04/06

31/05 a 04/06/2023

Sobre a feira

Projeto

Corpo-território

Anna Bella Geiger e Juliana Gontijo

Pensar o corpo, humano ou natural, como território é um processo que fala sobre nossa própria identidade. Como corpo-território, individual ou coletivo, podemos nos assemelhar às fronteiras de um país, que são invadidas, violadas, tornam-se pertencentes a outro alguém ou a um sistema que pode oprimir e silenciar crenças ou atitudes. São nas relações de poder e subversão que o corpo da mulher e também o da natureza são territórios de domínio e disputa. O feminismo e o ecofeminismo na contemporaneidade tem se tornado cada vez mais uma ferramenta interdisciplinar de resistência e de exercício do pensamento crítico sobre os tradicionais sistemas sociais. É através desse raciocínio que corpo, território e meio ambiente criam a tríade necessária para a compreensão do diálogo entre as obras de Anna Bela Geiger e Juliana Gontijo no stand da Galeria Murilo Castro durante a 2º edição da ArPA.

Aos 90 anos celebrados em 2023, a carioca Anna Bella Geiger apresenta uma série de obras nas quais discute a corporalidade e nossa concepção difusa de território, sempre mantendo suas espirituosas sátiras. Gravuras, serigrafias, desenhos e colagens compõem a seleção de trabalhos exibidos no espaço, que resgatam a produção da artista do fim dos anos 70 até meados dos 90. Foi justamente neste período que Geiger passa a empregar novos materiais em suas composições e produz formas cartográficas vazadas em metal dentro de caixas de ferro ou gavetas preenchidas por encáustica. Tal peça, também parte das obras aqui expostas, situa-se no limite entre pintura, objeto e gravura, retificando a multiplicidade da artista.

As pinceladas da mineira Juliana Gontijo discutem as fronteiras de corpo e mente a partir de formas naturais, usando o traço/risco como fio condutor que delimita e conduz o espectador nessa narrativa. Entre as pinturas da série exibida no espaço está a obra “A montanha é o umbigo da Terra”, nomeada a partir de uma frase de Geiger, em que a nonagenária discute o despertar simbólico da consciência de um grupo de estudos em meio à natureza. Na tela, Gontijo trabalha a tinta a óleo e pigmento natural de terra da região metropolitana de Belo Horizonte, cidade onde nasceu. Em outra das obras apresentadas, a artista mostra uma sobreposição de mapas de bacias hidrográficas do território brasileiro, trazendo à tona a discussão sobre nascente, foz e percursos, tema também caro ao pensamento de Geiger. Em uma confabulação ecofemininsta, Geiger e Gontijo dançam em um potente discurso sobre a territorialidade de nossos corpos e seu pertencimento na Terra.

Ana Carolina Ralston
curadora