Autorretrato – James Kudo

James Kudo: Autorretrato

Esta exposição, concebida para a Galeria Murilo Castro, apresenta um conjunto de obras inéditas realizadas nos últimos dois anos. Partindo de uma representatividade subjetiva, James Kudo é conhecido por suas pinturas que agregam elementos e cores da paisagem, provenientes de sua infância vivida no interior de São Paulo, e que se mesclam com uma linguagem gráfica contemporânea. Sua obra reflete a intensidade da absorção de informação visual e cultural, traduzida em composições que combinam formas geométricas, texturas e uma paleta vibrante, criando um diálogo entre o passado e o presente a transformar reminiscências em abstrações visuais.

A série Autorretrato tem como ponto de partida o ambiente familiar e o empenho diário de sua mãe com a costura. Na juventude, James Kudo trabalhou na confecção e desenvolvimento de estampas para marcas renomadas. Moldes, cortes, tecidos, texturas, padronagens, cores e formas não eram singularidades apenas das vestimentas, mas também dos corpos que as abrigavam, elementos que dominaram sua criatividade e seu processo artístico. James Kudo explora a ideia de moldar em seu processo artístico, tanto de maneira literal quanto simbólica. Moldando formas e conceitos, ele trabalha com uma linguagem visual que reflete sua relação com a memória, o corpo e o espaço. Ao usar moldes de papel, Kudo reconstrói suas composições a partir de pequenos pedaços, criando uma colagem visual que revela camadas de sua história pessoal e de suas influências. Frequentemente utiliza moldes de seu próprio corpo, interpretando essas formas em suas pinturas. Ele descostura roupas, refazendo os moldes em papel e, a partir dessas linhas, constrói novas narrativas visuais transpostas para a tela.

No primeiro momento, a abstração domina as pinturas. Em uma reconstrução de planos, utilizando moldes corporais como base, Kudo cria sua própria cartografia, repleta de percursos, espaços, traços e caminhos que conduzem o olhar do espectador. Há uma interação constante entre formas preenchidas e vazadas, volumes e contornos, que juntos compõem um mapeamento pessoal e subjetivo. Assim, o artista traça uma geografia íntima, onde corpo, memórias e materialidade se fundem, convidando-nos a percorrer essa trama de conduta e comportamento. Essa malha gráfica se destaca em primeiro plano pela precisão das linhas, pontilhados, campos de interseção e sobreposição. Porém é como exímio colorista, que o artista enaltece a composição ao posicionar essa trama sobre cores contrastantes — como vermelho e verde, azul e laranja, ou amarelo e roxo — que se intensificam mutuamente, criando uma sensação de movimento, profundidade e vitalidade.

Após a junção de todos esses elementos pictóricos sobre a tela, James Kudo parte para o processo reverso. A tela, que até então servia como suporte, atuando como uma entretela na costura — material de sustentação das partes individuais — é deixada de lado. As formas moldadas por Kudo se desprendem e ocupam o local expositivo como elementos autônomos em uma instalação site-specific. As peças individuais submergem no ambiente, sendo percebidas pela luminosidade pictórica que emanam.

O autorretrato moldado por James Kudo é composto por formas e cores, revelando a complexidade e vitalidade da identidade. Cada elemento visual se torna um reflexo das experiências e emoções que permeiam sua existência, criando uma obra que transcende as convenções usuais de retrato.

Tereza de Arruda
Historiadora de arte e curadora

Abertura
26/10/2024 – 11h às 14h

Exposição
de 28/10/2024 a 14/12/2024
de Seg. a Sex. – 10h às 19h
Sáb. – 11h às 14h