Anãtman / Não-Eu – Eduardo Scatena
Eduardo Scatena
27/04 a 08/06/2024
Sobre a exposição
Anātman / Não-Eu
“Anātman é um termo em sânscrito que significa “não-eu”. No contexto do Budismo, Anātman destaca a ausência de um eu permanente e independente, enfatizando que a existência não possui substância intrínseca. Ao invés disso, a identidade é concebida como uma série de fenômenos em constante mudança, influenciados pela impermanência e interdependência de todas as coisas, ressaltando a natureza fluida e relacional do eu”.
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O debate na pintura sobre a marca pessoal e o gesto do artista são temas frequentemente discutidos ao longo da história da arte. O ápice dessa discussão se deu com o expressionismo abstrato, no qual os artistas desse movimento utilizavam pinceladas vigorosas, gestos amplos e uma variedade de práticas em que a ação do artista era perceptível no resultado final da obra.
É nesse ponto que a influência da cultura oriental se faz presente no meu trabalho. O Budismo, com seu conceito de “Ausência do EU”, oferece uma perspectiva única sobre a identidade pessoal. Essa influência se evidencia quando realizo inicialmente uma pintura carregada de gestos espontâneos e generosos, mas logo em seguida, anulo deliberadamente a marca deixada pelos meus gestos, tornando quase imperceptível a presença do “EU” no trabalho.
Essa anulação do gesto é resultado de uma combinação de movimentos corporais destinados a controlar, com o auxílio da força da gravidade, o líquido depositado sobre a superfície, transformando-o em uma fina película uniforme que resulta em pinturas que se definem pela ausência de ruídos, formas e narrativas explícitas.
Assim, meu trabalho também se define por uma investigação daquilo que considero essencial na pintura. Durante minha trajetória como artista comecei trabalhando formas muito detalhadas e queria contar uma história através delas. Essa necessidade de contar uma história deixou de existir, fiquei mais interessado no sentimento que uma pintura pode provocar e, aos poucos, fui retirando seus elementos até sintetizá-la em cores e luzes.
Com essas pinturas pretendo oferecer uma pausa, um momento de silêncio. Num mundo onde somos constantemente bombardeados por uma infinidade de estímulos e informações, gostaria de criar um espaço que convida o espectador a um momento de reflexão e introspecção.
Abertura
27/04/2024 – 11h às 14h
Exposição
de 29/04/2024 a 08/06/2024
de Qui. a Sex. – 14h às 19h
Sáb. – 11h às 15h
Sobre o artista
Eduardo Scatena Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Sua pesquisa se concentra no estudo dos limites da matéria na pintura. Muito interessado em seus processos, seu trabalho se desenvolve com a aplicação de finíssimas camadas de tinta em estado líquido, investigando as possibilidades da tinta em contato com o suporte. Utilizando o empenho corporal e manipulando a tela fisicamente, Scatena controla o líquido depositado sobre a superfície de forma que os “acidentes” típicos da pintura sejam evitados, invertendo assim a lógica do que se espera da tinta nesse estado, que é manchar, escorrer. Sua pintura também se relaciona com a anulação do gesto, uma vez que os vestígios da pincelada também são desfeitos com a manipulação física da tela. O resultado dos procedimentos adotados são pinturas extremamente econômicas no volume de matéria depositada sobre a superfície, apresentando suaves transições entre as cores que induzem o espectador a se questionar se a pintura é realmente um trabalho manual ou um trabalho realizado com o auxílio de alguma outra ferramenta que não seja o pincel, ou até mesmo o resultado de algum processo industrial, como a impressão de uma imagem construída digitalmente. Isso também torna o trabalho intimamente relacionado com a nossa realidade atual, na qual não é mais possível distinguir claramente entre o real e o virtual.