2023: As plantas criam mundos – Juliana Gontijo – 25/02 à 08/04/2023

Juliana Gontijo


25/02 à 08/04/2023

Sobre a exposição

As plantas criam mundos

“This is a blue planet, but is a green world” – Karl J. Niklas

Durante os fascinantes diálogos entre os líderes indígenas e ambientalistas Ailton Krenak e Carlos Papá foi discutido um dos pilares que define a cosmovisão dos povos originários que vivem na América Latina, em especial dos Guarani Mbya e os Tupi: o entendimento da noite e da escuridão. Enquanto nas culturas ocidentais tal premissa nasce imbuída da religiosidade cristã, que implica nas trevas a moral, o julgamento e o profano, para tais povos que habitam nossa terra anteriormente às invasões ocidentais essa prerrogativa caminha em outra direção. É da escuridão que tudo nasce, prospera e tem sua origem mais pura. É de onde brota a natureza, seja fauna ou flora, e para onde voltamos inevitavelmente concluindo o ciclo vital. A mãe é escuridão. É sobre a dualidade entre luz e sombra e os diversos significados fisiológicos e filosóficos do universo vegetal que As plantas criam mundos, segunda individual da mineira Juliana Gontijo na Galeria Murilo Castro, busca discutir.

Logo na entrada, o espaço já traz essa dicotomia em uma divisão entre duas salas, dois mundos interligados. À esquerda, a noite e a magia tomam forma por meio de aromas que aguçam os sentidos, levando-nos de volta ao centro da terra. É imersa nela e em meio à escuridão que é depositada a semente que, seguindo tal força telúrica, germinará e caminhará em direção à luz. Pinturas em tela ou papel e desenvolvidas em tinta acrílica, carvão e lápis criam pelas paredes um fluxo criativo de conexão entre os elementos presentes no espaço. Seu sistema rizomático alimenta e nutre o entorno, unindo trabalhos de dimensões distintas. No centro, terra, cerâmica e materiais criados e depositados pelo homem na natureza, como o plástico, compõem uma instalação site-specific que busca nos guiar pelos cheiros de plantas cultivadas e cultuadas como propagadoras de crenças, curas e alimentos. No alto de uma das paredes, um sinal. Estrelas de sete pontas aparecem como um guia de uma cosmologia nômade que se institui no próprio processo poético da artista. É por meio das inúmeras incursões realizadas por Juliana pelo mundo, seja na mata ou na cidade, de forma real ou imaginária, que se constroem tais frutos reunidos nesta exposição. De suas travessias e deslocamentos, ela retorna e reconta as narrativas de forma sonora, escrita e pictórica. É dessa forma que contextualiza o pensamento nômade abordado em Assim Falou Zaratustra, obra do alemão Friedrich Nietzsche, que permeia seus estudos e processos e desemboca em sua forma artística.

Pela sala ao lado, faz-se a luz. O calor solar adentra o ambiente e faz crescer com ele todos os elementos que um dia foram sementes. De suas obras, dispostas em escalas variáveis pelo espaço e interligadas pelo fio condutor de sua narrativa que transborda pela parede, brotam Espada de São Jorge, Louro, Alecrim. Em uma dança figurativoabstrata, Juliana invade tais seres com símbolos, linhas e palavras. Aliás, é a palavra em forma de literatura, filosofia ou recolhidas em seus cadernos de anotações que dá sentido e traça o caminho a ser percorrido em sua criação. Rodeado por tais pinceladas e desenhos está o portal, a dobra no espaço que interliga de forma visceral os dois mundos, o claro e o escuro, as forças antagônicas e complementares que constroem a vida. Mais um círculo de terra, agora com plantas já banhadas pela luz, se cria, como se assim a artista nos permitisse transitar entre esses dois universos de forma direta.

Ao seu ofício, ela adere o questionamento constante do existir, modificar e metamorfosear. A experimentação é parte do virtuoso ato de criar de Juliana, que versa com produções em diferentes suportes e formas. Isso fica claro com a presença de uma obra sonora na qual ela narra uma conversa sua com as plantas – espécie de transmorfo do humano para o vegetal. Como diz Emanuele Coccia, em A Vida das Plantas, “não se pode separar a planta nem fisicamente, nem metafisicamente do planeta. Ela é a forma mais intensa, radical e pragmática do estar no mundo… é ela que encarna o laço mais intimo e elementar da vida na Terra”.

Ana Carolina Ralston

Abertura
25/02/2023 de 11h às 14h

Visita mediada pela curadora Ana Carolina Ralston
25/02/2023 às 11:30h

Exposição
de 27/02/2023 a 08/04/2023
de Seg. a Sex. – 10h às 19h
Sáb. – 10h às 14h

Sobre o artista

Nascida em Belo Horizonte, Juliana Gontijo é  formada em Artes Visuais pela UFMG. Participou de diversas exposições coletivas e exposições individuais sendo a última delas “O tempo é implacável” no MAMAM Recife. Desenvolve projetos relacionados à geografia, à imagem e à palavra e busca sua expressão através da construção de composições híbridas lidando com pintura, desenho, objeto, vídeo, fotografia, som, texto. Através da operação de pequenos desvios seu trabalho aponta para o desejo da subversão de um discurso linear e lógico. À artista interessam narrativas que não se prestem à criação de fundamentos, aquelas que permitem, dentro do corpo do texto/ imagem, a emergência de contradições e dúvidas e que criem “fronteiras alargadas” por onde devem atravessar as complexidades da experiência de seu próprio corpo (físico, sensível e político) no tempo e no espaço.