Camille Kachani

  • Biografia

    Camille Kachani (Beirute, Líbano, 1963) desenvolve um processo inventivo de possibilidades relacionadas ao processo de transformação da Natureza. Suas obras são objetos híbridos, que investigam as condições originais e primitivas dos elementos naturais.

    Amanhã era outro dia
    Eles poderiam ser objetos comuns, utilitários ou decorativos, mas têm um je ne sais quoi que os coloca em terreno vago, numa área que, não sendo mais nada, tem tudo para ser invadida pela arte. Os objetos de Camille Kachani são invasores de áreas periféricas.
    Poderiam ser bichos de pelúcia, mas têm o tamanho de um sofá, remetendo às esculturas de Claes Oldenburg. Poderiam ser pequenos robôs em forma de animais, mas trazem no título “natura ex machina” um liame com o teatro grego, do “deus ex machina” que do nada surgia no palco, baixado por um guindaste, para dar sentido e conclusão a uma trama mal costurada. Poderiam ser vassouras, gaiolas e outros objetos domésticos feitos de madeira, mas deles brotam folhas verdes, apontando para um desejo de dar outra vida às coisas. Imagino todas as madeiras da casa brotando, as prateleiras e gavetas, os batentes das portas, os cabos das facas, vigorosamente ressuscitando e gerando brotos, por um lado algo gracioso, por outro lado algo tão terrível quanto um bife que mugisse. Embevecer-se ou gritar de terror? Rir das notas de dólar adulteradas ou chorar pela impossibilidade do fim do dinheiro? Aí reside a diferença crucial entre um bicho de pelúcia e uma obra de arte: a incerteza, terreno vago onde a produção de Kachani sente-se em zona de conforto para causar desconforto em todas as outras zonas.
    Há alguns anos, essas perturbações eram placas de sinalização absurdas espalhadas pela cidade, como “Assalto a mão armada a 150 m” ou “Pare Sinta Reaja”. Depois, signos da urbanidade, como caçambas de entulho, cones, fuscas e portas de garagem apareceram bidimensionais e macios, como se fossem tapetes para casas condenadas à impossibilidade da paz doméstica, perpetuamente invadidas pelos ruídos da rua. Na produção mais recente, as perturbações são causadas pelos brotos verdes da madeira insurrecta, que inviabiliza gaiolas. Vassouras e bruxarias sempre voam juntas e deve ser por isso que a série “Amanhã era outro dia”, iniciada em 2012 tanto enleva quanto horroriza. Não é possível escravizar o que é vivo sem que uma reação seja lentamente, imperceptivelmente, gestada. E aliás, esses objetos híbridos que escaparam das margens do design estão aí para nos fazer lembrar que a arte é viva, é natureza naturante, força que engendra. Muito cuidado, portanto: ela pode brotar à revelia das constrições, e para tanto acionará encanto e terror, como em todo nascimento.
    Paula Braga, 2013

     

    Camille Kachani (Beirut, Lebanon, 1963) develops an imaginative process of possibilities related to the process of transformation of nature. His works are hybrid objects which look into the original and primitive condition of natural elements.

    Tomorrow was Another Day
    They could be ordinary objects, utilitarian or decorative, but they have a je ne sais quoi that puts them in vague terrain, in an area that, being nothing else, has everything to be invaded by art. Camille Kachani’s objects are invaders from peripheral areas.
    They could be stuffed animals, but they are the size of a sofa, alluding to the sculptures of Claes Oldenburg. They could be small robots in the form of animals, but titled “natura ex machina” an allusion to Greek theater, where “deus ex machina” appeared on the stage, lowered by a crane, to give meaning and conclusion to a poorly convceived plot. They could be brooms, cages and other household objects made of wood, but they sprout green leaves, pointing to a desire to give life to life. I imagine all the wood in the house sprouting, the shelves and drawers, the doorposts, the knives’ ropes, vigorously resuscitating and sprouting, on the one hand something graceful, on the other hand, something as terrible as a steak that mooed. Get drunk or scream in terror? Laugh at the adulterated dollar bills or cry over the impossibility of the end of the money? Here lies the crucial difference between a stuffed animal and a work of art: uncertainty, a vacant lot where Kachani’s work feels comfortable to cause discomfort in all other areas.
    A few years ago, these disturbances were absurd signs scattered throughout the city, such as “armed assault at 150 m” or “Stop Feel React”. Then signs of urbanity, such as dumpsters, cones, beams, and garage doors appeared two-dimensional and soft, as if they were rugs for homes condemned to the impossibility of domestic peace, perpetually invaded by street noises. In the more recent production, the disturbances are caused by the green shoots of insurgent wood, which make cages unfeasible. Brooms and witchcraft always fly together, and that must be why the series “Tomorrow was Another Day”, started in 2012 both enlightens and horrifies. It is not possible to enslave what is alive without a reaction being slowly, imperceptibly, gestated. And besides, these hybrid objects that have escaped the edges of design are there to remind us that art is alive, it is nature, a force that engenders. Very careful, therefore: it can sprout in the absence of constrictions, and for this will trigger charm and terror, as in every birth.

     

  • Bibliografia

    RESENDE, Ricardo, “Cosmogonia Contemporânea”, Catálogo da Exposição, Galeria Mercurio, 2003.

    FABRIS, Annateresa. (Org.) . Arte de mim…, In: Catálogo do 60º Salão Paranaense, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, 2003.

    PUTON, Jean-Pierre, Catálogo XIV Biennale Internationale de l’Image, Ed. Gerard Louis, 2006.

    NINO, Maria do Carmo, “Com Ironia e Afeto : Ludicidades”, Catálogo da Exposição, Trajetórias, Fundação Joaquim Nabuco, Recife, PE, 2007.

    CASTRO, Daniela, “A abjeção do olhar”, Catálogo da Exposição Temporada de Projetos, Paço das Artes, 2007.

    AMADO, Guy, “Sobre Invisíveis ou à margem do olhar”, Catálogo da Exposição, Galeria Thomas Cohn, São Paulo, 2007.

    FABRIS, Annateresa, “O corpo estilhaçado”, in Arte, Crítica e Mundialização, (p. 227 – 236) 2007, Editora Imprensa Oficial.

    CAMPOS, Marcelo, “Objetos”, Catálogo da Exposição, Galeria Annamaria Niemeyer, RJ, 2010.

    BOUSSO, Daniela, ARANTES, Priscila, “Produção, Reflexão, Memória”, 2010.

    SESCTV, Documentário ARTES VISUAIS : CAMILLE KACHANI, Agosto de 2011.

    ALVES, Cauê, Natural e manual, catálogo da exposição, Zipper Galeria, 2014

  • CV

    Prêmios/Prizes
    Prêmio Aquisição, Edital Bienal Salão Paranaense, MAC/PR, Curitiba, 2007.
    Prêmio Espaços de Artes Visuais, FUNARTE, São Paulo, 2005.
    Prêmio Aquisição, 31° Salão de Arte Contemporânea de Santo André, 2003.
    Prêmio Revelação Salão Artes Plásticas do MAC/Americana, SP, 2003.
    Prêmio Aquisição, 9° Salão de Arte Cont. de São Bernardo do Campo, 2002.
    Prêmio Gov. Mário Covas, Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, 2001.

    Coleções/Collections
    MAR Museu de Arte do Rio de Janeiro
    MAM/SP Museu de Arte Moderna de SP
    MAC /USP Museu de Arte Contemporânea da USP
    MAC-Niterói, RJ / Coleção João Sattamini
    MAM-RJ / Coleção Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro, RJ
    MAC-PR – Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba
    MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto,SP.
    MoLAA – Museum of Latin-American Art, Los Angeles, California, EUA.
    Fondacion Otazu, Navarra, Espanha
    Colección Metropolitana Contemporanea, Buenos Aires, Argentina.
    Centro de Arte Contemporáneo Wilfredo Lam, Havana, CUBA.
    Fundação Joaquim Nabuco, Recife, PE.
    Instituto de Arte Contemporânea, UF/PE, Recife, PE.
    Acervo Universidade Federal de Sta. Catarina, Florianópolis
    Casa do Olhar, Acervo da Prefeitura de Santo André, SP.
    Coleção Regina e Delcir da Costa, Belo Horizonte, MG
    Coleção Antonio Celso Ribeiro, Belo Horizonte, MG.
    Coleção Fernando Abdalla, São Paulo, SP.
    Coleção Márcio Silveira, São Paulo, SP.
    Coleção Renata e Paulo Marinho, Rio de Janeiro, RJ.
    Coleção Toni Vanzollini, Rio de Janeiro, RJ.
    Coleção Alexandre Martins Fontes, São Paulo, SP

  • Exposições

    Principais Individuais:

    2019- Galeria Murilo Castro, Miami, USA
    2016- Zipper Galeria, São Paulo, SP
    2014 – Zipper Galeria, São Paulo, SP
    2010 – Galeria Anna Maria Niemeyer, Rio de Janeiro, RJ
    – Galeria Thomas Cohn, São Paulo
    2008 – FUNARTE, São Paulo, SP
    2007 – Galeria Thomas Cohn, São Paulo
    – Temporada de Projetos, Paço das Artes, São Paulo, SP
    – Projeto TRAJETÓRIAS, Fundação Joaquim Nabuco, Recife, PE.
    – Galeria Anna Maria Niemeyer, Rio de Janeiro, RJ.
    2006 – Galeria de Arte da Universidade Federal de Sta. Catarina, Florianópolis, SC.
    2005 – Instituto de Arte Contemporânea, Univ. Federal de Pernambuco, Recife, PE.
    – Galeria Murilo Castro, Belo Horizonte, MG.
    – Espaço FURNAS Cultural, Rio de Janeiro, RJ.
    2004 – MAC – PR – Museu de Arte Contemporânea de Curitiba, PR.
    2003 – Galeria Mercúrio, São Paulo, SP.
    – MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto, SP.

    Principais Coletivas:
    2016 – Doações recentes (2012-2015), (curadoria P. Herkenhoff), MAR, RJ
    2015 – Bienal Internacional de Curitiba, MAC/PR
    – A Casa, MAC/USP (curadoria Katia Canton), São Paulo
    – I TRIO – Bienal Internacional do Tri-dimensional do Rio, RJ
    – Festival Internacional de Artes Vertentes (artista convidado) Tiradentes, MG
    2014 – Esculturas monumentais, Praça Paris, Rio de Janeiro
    2013 – Bem-vindos, Zipper Galeria, São Paulo, SP
    2012 – Annamaria Niemeyer:um caminho, (curadoria Lauro Cavalcante) Paço Imperial, RJ
    – ESPELHO REFLETIDO, (curadoria Marcus Lontra) CC Helio Oiticica, RJ
    – ArteRio (galerias Zipper e Murilo Castro)
    – 05+50 MARP 20 Anos, Museu de Arte de Ribeirão Preto, SP
    – Panorama Terra (RIO +20), Rio de Janeiro (curadoria Alexandre Murrucci)
    2011 – ArteRio, RJ (galeria Thomas Cohn)
    – “Nova Escultura Brasileira”, Caixa Cultural – Rio de Janeiro, RJ
    – “Múltiplas Faces”, Museu de Arte Contemporânea de Curitiba, PR
    2010 – “66 x 96”, Paço das Artes, SP
    – ArteBA, Buenos Aires, Galeria Thomas Cohn (SP),
    2009 – NANO, Studio 44 Gallery, Estocolmo, Suécia.
    2008 – N MÚLTIPLOS (curadoria: Ligia Canongia) Galeria Murilo Castro, Belo Horizonte.
    – 15º Salão da Bahia, MAM/BA, Salvador, Bahia
    – COLECCIÓN METROPOLITANA CONTEMPORÁNEA, Buenos Aires, Argentina.
    – SPArte, Galerias: Thomas Cohn (SP), Murilo Castro (BH),
    – ArteBA, Buenos Aires, Galerias: Murilo Castro (BH),
    – ARTE CONTEMPORANEA BRASILEIRA EMERGENTE, Espacio Menosuno, Madrid, Espanha
    – Table Tennis Art, Beijing, China
    2007 – HETERODOXIA, Galeria Murilo Castro, Belo Horizonte, MG.
    – Salão Paranaense, MAC/PR, Curitiba, PR
    – FUNARTE, São Paulo, SP
    – RECORTAR E COLAR | CRTL_C + CRTL_V, SESC Pompéia, São Paulo, SP.
    – ArteBA – Galeria Thomas Cohn, Buenos Aires, Argentina

    – SP-ARTE, Galeria Thomas Cohn, Galeria Murilo Castro, São Paulo, SP.
    – NOVAS AQUISIÇÕES / Col. Gilberto Chateaubriand, MAM-RJ, Rio de Janeiro
    2006 – TRANSVERSAL, Galeria Sérgio Caribé, São Paulo, SP.
    – PROJETO PARI, 30 artistas na Biblioteca, SP.
    – FAKE, Galeria 90 Arte Contemporânea, RJ.
    – 25 ARTISTAS, Galeria Anna Maria Niemeyer, Rio de Janeiro, RJ
    – XIV BIENNALE INTERNATIONALE DE L’ IMAGE, Nancy, FRANÇA.
    – ÁGUA CORRENTE, Centro Cultural São Paulo, SP.
    – OBLIQUE, Galeria da Aliança Francesa, São Paulo, SP.
    – XIV Universidarte /GALERIA ESPECIAL (artista convidado), Univ. Estácio de Sá, Rio de Janeiro, RJ.
    – SP-ARTE / Galerias Mônica Filgueiras (SP) e Murilo Castro (MG), São Paulo, SP.
    – NANOEXPOSIÇÃO, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES.
    2005 – Re-Sinal-Iz-Ação / intervenção urbana, São Paulo, SP.
    – 7º SALÃO DE ARTE DE BLUMENAU, Blumenau, SC.
    – PAÇO DAS ARTES / 1° OCUPAÇÃO, Paço das Artes, São Paulo, SP.
    – VII SALÓN DE ARTE DIGITAL DE HABANA, Havana, CUBA.
    2004 – VII BIENAL DO RECÔNCAVO, São Félix, BA.
    – I SALÃO ABERTO /Paralelo a XXVI Bienal Internacional de São Paulo, SP.
    – MOSTRA TÍTULO DE PINTURA, AteliêAberto, Campinas, SP.
    – 6 x TEMPO, (c/ o Grupo Elementosete), Galpão Pompéia, São Paulo, SP.
    – CORPO, Museu de Arte de Ribeirão Preto, SP.
    – MoLAA – Museum of Latin American Art, Los Angeles, EUA.
    – PALMO QUADRADO, Palo Alto Art Center, Califórnia, EUA.
    2003 – 60° SALÃO PARANAENSE, MAC-PR, Curitiba, PR.
    – 35° SALÃO DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE PIRACICABA, Piracicaba, SP.
    – MAC-C / EDITAL2003, Museu de Arte Contemporânea de Campinas, SP.
    – 6°SALÃO DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE AMERICANA, MAC-Americana, SP.
    – 31° SALÃO DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE S. ANDRÉ, Santo André, SP.
    2002 – 59° SALÃO PARANAENSE, MAC-PR, Curitiba, PR.
    – 9° SALÃO DE ARTE CONTEMPORÂNEA, São Bernardo do Campo, SP.
    2001 – Noho Gallery, Soho, Nova Iorque, EUA.

    Vídeo
    “EPIFANIA” (c/ Inês Cardoso), Mini-DV, 5’45”, 2005

     

     

  • Site do Artista

    www.camillekachani.com.br

  • Seleção de Imprensa

    Não disponível